Autor:Franklin Morais Moura
Os túneis eram longos. De quarenta em quarenta metros encontravam-se com outros, variando de tamanho, mas todos eles davam para qualquer pessoa de mais ou menos dois metros caminhar normalmente. Eram construídos em rocha sólida, pareciam túneis de minas subterrâneas, exceto o piso que era polido e refletia como espelho. O lugar tinha pouca luz, na verdade eu não conseguia identificar de onde vinha a pouca luz existente naquele ambiente lúgubre.
Não sei há quanto tempo estava correndo, fugia como a caça foge do caçador. Parava, olhava mas todos os corredores pareciam iguais, um imenso labirinto.
Sentei-me no chão no intuito de recuperar o fôlego. Abracei os joelhos e pousei a cabeça sobre eles. Por que estou correndo assim loucamente? Sei que estou fugindo de algo, mas de que? Não conseguia lembrar-me de nada, nem do meu próprio nome. Já sei, tudo isto é um sonho! Disse a mim mesmo. Mas não podia ser sonho, tudo era real de mais. Belisquei-me para sentir minha presença e o fiz com tanta força que terminei sentindo muita dor. Dor, sim, agora lembrei-me de algo. Lembrei-me de gemidos de dor.
Meus pensamentos foram interrompidos por sons de passos, alguem se aproximava. Levantei rapidamente a cabeça e do meu lado surgiram três criaturas. Não me levantei, minhas pernas pareciam petrificadas, meu corpo todo estava paralisado. Seus rostos eram compridos com traços delicados, não tinham cabelos, a boca era redonda, eram de cor branca como a neve e magros, os dois membros superiores na altura do cotovelo se dividiam em mais dois e as pernas lembravam as de um elefante.
Fui arrastado por eles ainda em estado de choque por não entender nada do que me acontecia. Pararam em frente de uma parede espelhada como o piso que se abriu simplesmente desaparecendo. A passagem dava para outro corredor, com as paredes, o teto e o piso formando um hexágono. Continuei sendo arrastado, entramos finalmente em uma grande sala circular de teto côncavo e luminoso. Na sala, diversas camas que pareciam mais com mesas espalhavam-se ordenadamente com pessoas iguais a mim deitadas sobre elas. Estavam vivas, notavam-se pelos lentos movimentos que faziam seus corpos e, embora não estivessem amarradas, não queriam ou não conseguiam deixá-las.
Caminharam arrastando-me até o centro da sala onde jogaram-me em uma cama que parecia reservada para mim. Aplicaram algo em meu braço. Logo que saíram procurei levantar-me, mas foi inútil a tentativa, o corpo não obedecia ao comando da mente. Que fazer então? Continuava perdido, sem nada lembrar. Já não sabia como tinha vindo parar naquela cama, perto daquelas pessoas e tão longe ao mesmo tempo. E aquelas horríveis criaturas brancas que transitavam entre as camas?
Tiraram-me da cama e, como um mísero animal, levaram-me para outro cômodo, ao lado, de dimensões muito menores, fui colocado em outra cama e nela amarrado. O mais horrendo de todos aqueles seres aproximou-se de mim, tinha ferros nas mãos que por fios estavam ligados a uma máquina. Enfiaram algo em minha boca e encostaram aqueles ferros em minha cabeça. Milhares de agulhas percorreram todo o meu corpo e então não consegui ver mais nada.
Acordei numa cama no centro de uma enorme sala circular com teto côncavo e luminoso. Não sabia quem eu era. Tinha vontade de levantar-me e sair correndo mas não tinha forças. Tudo era estranho, muito estranho.
Salvador, fev/1982
Nenhum comentário:
Postar um comentário